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Fox-Time

Fox-Time

Rent-a-Car

27.04.21

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Entrou confiante no estabelecimento, a vontade de pôr em marcha a próxima etapa
do plano, bem presente na sua mente.

De imediato, foi atendido por uma jovem que se dirigiu a ele com a requerida
simpatia do seu ofício, a placa de identificação da Guerin ostentando o seu nome
no casaco verde escuro que vestia.

"Bom dia, posso ajudá-lo? "

"Bom dia...sim...com certeza. Vim tratar do aluguer para uma carrinha de carga média,
tipo Doblo ou Berlingo. Telefonei antes para ter uma ideia dos valores, mas optei por
vir pessoalmente para tratar melhor do assunto."

"Fez bem. Vou acompanhá-lo até uma das nossas gestoras. Como se chama?"

Respondeu e prontamente seguiu o gesto, que ela lhe fez, para se fazer acompanhada.

"Pode sentar-se...é só um bocadinho...a minha colega está a terminar uma chamada
telefónica e já já vem ter consigo. Com licença."

A porta do gabinete, que era quase todo envidraçado, estava fechada.
No entanto, o som meio murmurado de uma voz feminina chegava até ele,
à mistura da música ambiente presente nas instalações do rent-a-car.
Inclinando-se ligeiramente na cadeira, era possível vislumbrar uma pequena parte das pernas
de quem estava à conversa atrás da secretária escura, adjacente a uma espécie de estante.
De meias de lycra e sapatos altos elegantemente pretos, balançava ligeiramente o pé
da perna que se encontrava cruzada sobre a outra.

Deve ser uma daquelas jeitosas que dá a volta ao cliente com um pinta danada...pensou,
sorrindo para si mesmo.

Breves instantes depois, ouviu o pousar do aparelho no descanso e apercebeu-se do rodar
da cadeira dela, levando-o consequentemente, a preparar-se para a trocar habitual de cumprimentos.

A porta abriu-se e ele levantou-se ajeitando o blusão...
e,
aí,
foi como se o mundo deixasse de rodar,
como se o cronómetro cardíaco entrasse em euforia descompassada,
a traqueia, seca, se auto asfixiasse...

"Olá..."- conseguiu proferir -"és tu...és mesmo tu(?)...Porra..."

"É...estou...quer dizer...sou..."- a mulher a sua frente estava igualmente com dificuldades
em articular as palavras.

Não seria possível saber quanto tempo estiveram ali parados, inertes, sem reacção.

"Desculpa...eu...se calhar é melhor eu ir embora..."- disse-lhe, sem, contudo,
conseguir afastar o olhar,
os seus olhos...dos dela.

Virou-se para pegar na mala de mão que pousara na cadeira.
Não sabia como agir, tal como não sabia o que estava a sentir.
Era, simplesmente...avassalador!

Encaminhou-se até ao corredor, tudo dentro dele gritando para que a olhasse de volta,
uma panóplia de emoções deitando garras às suas entranhas.

"Espera (!)...não vás...espera..."- ouviu, as palavras quase num pranto.
" Faz tanto tempo. Podemos conversar. Não? Anda..."

Tinha-se virado para a encarar mas fora apenas a tempo de vê-la esconder os seus
olhos grandes e brilhantes, com um virar de cabeça, à medida que entrava no escritório.

Respirou fundo, fazendo uma breve mas muito necessária pausa.
É bom. Sim, vai ser bom. Faz tanto tempo que estou à espera.

Entrou e sentou-se à frente dela.
Olhou-a.
Continuava lindíssima.
Apenas uma madeixas mais claras no longo e esticado cabelo mexiam com as lembranças
de outrora.
A maquilhagem permanecia discreta mas eficaz.
És tu..
Sim...és.

"Tens razão. Podemos. Que bom que queiras.
Faz tempo que eu quero...como sabes..."

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