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Fox-Time

Fox-Time

O Escritor ( uma partilha diferente )

16.06.21

traveling-alone.jpg

Em pequeno, o meu gosto por livros levou-me até à escrita.
Dava largas a fantasias de criança e criava aventuras com diálogos e personagens.
Com o tempo, assim como normalmente acontece com todos que escrevem,
até tentei a poesia.

As poesias apareceram na adolescência como é habitual e os temas são
na sua maioria, quase sempre os mesmos.
Até porque nessa idade escrevemos sobre o que ainda não se vive e não se sente,
mas que se lê e se vê...e se deseja.
Durante anos o processo é o mesmo.
Brincar com as palavras, trocá-las de ordem, experimentar as
figuras de linguagem,
inventar metáforas pobres e rimas sem rimas...na tentativa de ser livre e hábil.
A certa altura, anos decorridos, já conseguia escrever sobre qualquer coisa,
mas isso, não me interessava particularmente.

Fiquei pelos temas principais - o amor, a solidão e perda.
Consequentemente, o sexo e o erotismo começaram a fazer parte dos meus textos.

Talvez pela vida que me aconteceu e como aconteceu.

Acabei por, no fundo, largar a poesia que só merece ser tratada por quem tem trato especial por ela.
Escrevo, na verdade, sobre o amor como ninguém...ou como muitos...como eu.
Cartas, contos e pequenas histórias.
E claro, confissões e estados de alma.

Escrever era fácil...

Eu escrevia sobre o amor como ninguém...( foi o que eu disse? ),
até Tu me mostrares o que o amor realmente é.
Contigo descobri sentimentos, cores, desejos,
sons e ritmos que envolvem cada palavra.
Por mais que eu queira, tente e esforço-me,
não consigo mais escrever sobre o amor sem “aquilo”...,
o que Tu trouxeste para a minha escrita – “a magia”.

...era ( fácil )...

Tu alteraste tudo o que eu conhecia,
ou que achava conhecer.
Com o teu jeito de ser,
derrubaste os meus muros,
destruíste a minha armadura,
viraste o meu mundo do avesso,

...e aqui estou...

O que antes era fácil,
é,
cada vez mais,
impossível.

As palavras tendem a sumirem,
as frases auto-completam-se,
sem vida,
previsíveis,
rancorosos,
frias,
ásperas,
depressivas,
e por vezes até,
...chatas!


Tenho bloqueios.
O ecrã fica em branco à espera de uma palavra.
Por vezes durante minutos.
Por vezes horas sem fim.
Chego até a sair do texto para regressar noutro dia!


Descobri, com esta idade,
que até hoje,
só brinquei à escrita.

Todos os poemas que escrevi sobre o amor são mentiras,
meras palavras.

Porque, o amor que sinto não pode ser dito nem escrito!
Não consigo e nunca vou conseguir descrevê-lo!!
Passaria a vida utilizando vocabulários rebuscados e não captaria
a mínima essência
do que foi ( e é ) amar te.

Eu escrevia sobre o amor como ninguém,
...mas...agora,

prefiro não conseguir fazê-lo.

Perdeu todo o sentido.

O meu coração esgotou-se de tanto gostar de ti.
Isso, perturba o meu raciocínio.
A minha alma grita ao ouvido do escritor que fui,
condena-o,
responsabiliza-o,
chama-lhe nomes grotescos,

faz-o querer desistir de tudo!

...quanto mais, da escrita...


No entanto, é isto que me resta.
É,
ASSIM,
que consigo sobreviver!


Estive perto de concretizar o sonho do escritor menino.

( Estive? )

A Vida,
esta Vida,

encarregou-se e encarrega-se de tirar-me muito do que amo
e quando estou a um passo do sonho,
um degrau,

constato que para além desse degrau aguarda-me o abismo,
o mais negro e o mais só de sempre...

Hoje, tudo é Pó.
Como ouvi cantar na Antena 3 esta manhã.
E Tu...e Eu...um dia...também o sermos.
Pó.

Será que há outras vidas?
Será que vai haver outra oportunidade, noutras circunstâncias?
Ou, será que estamos condenados e viver ciclos de um Amor fulminante,
que acabam sempre em tragédia...porque nos escapa "algo"?

"Algo" uniu-nos e "Algo" separou-nos!
..”algo”...

Obrigado, por me mostrares que o amor é muito mais,
do que meras palavras em livros,
cenas na televisão,
fotos nas redes sociais,
...e pensamentos solitários.

Obrigado,
por ensinares ao escritor menino,
hoje homem,
o peso das Palavras.

Suspeito que,
“Eu Amo-te” - tantas vez escrito,
por mim
para Ti,
foi escrito,
para nunca mais,
voltar a ser re
escrito!



( Nessa noite solitária,
o escritor escrevia que nem um abandonado,
um verdadeiro louco desmiolado.
Porque não havia, a não ser Deus,

quem lê-se as suas palavras.
Na verdade, o escritor escrevia para si mesmo.
Escrevia para sossegar a tempestade que morava dentro de dele.
Teclava as palavras para suster o tumulto que consumia a sua própria existência.
Aquele seu lugar, esconderijo virtual feito de teclas e ecrã vazio,
era onde o escritor conseguia, (ainda ! )...falar com Ela,
...mesmo sendo que...Ela não o ouvisse!

Um dia...pensava ele,
entre lágrimas amargas que teimavam salpicar o qwerty,
pode levar uma eternidade,
até ser só e apenas um mero dia,
um dia...
quando te encontrares só,

ou numa praia onde caminhamos juntos de mão dada,
Tu há-des recordar,
...as palavras que leste
...e que nunca mais
...palavras semelhantes
...tornaste a ler.
Um dia ??? Bullshit! 
Eram pensamentos desmedidos de um presunçoso sofrido,
agarrado às vivências e emoções presas num tempo que passara,
sem volta, sem contemplações, sem consolo.

É, o tempo passou...e passa...

O Escritor voltou a acreditar.
Consegue escrever.
O seu lugar outrora sombrio readquiriu novo brilho e o qwerty,
cúmplice de novas histórias, voltou a ser acarinhado.

Contudo,
o Escritor percebeu que não é o tempo que cura,
não,
nada disso.
Somente dentro dele reside a dita cura,
o único caminho para a felicidade.
Está naquilo que ele busca e pelo qual tem de lutar,
o poder para eventualmente encontrar,
o que procura,
e quem quer,
caminhando a seu lado.

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