Entre a chávena de chá gelado e a provocação do silêncio ardente,
a vontade cala-se como poesia rasurada,
que não precisa de ser passada a limpo.
Na língua e na pele tecem-se enredos de brisas inquietas e estrelas cadentes
que transportam em si o brilho do vazio incompreensível,
de galáxias por descobrir.
Como é sedutor o cetim que a acaricia,
num acto perfeito de aconchego sublime.
Fá-la viajar,
adentro da menina-mulher,
seus pensamentos audazes repletos de quereres famintos,
agora, momentaneamente tímidos.
Um suspiro,
profundo,
é sentinela astuto.
Um olhar,
cintilante,
alcança-o de soslaio.
Um sorriso,
maroto,
coloca a língua entre dentes.
A menta fria queima, o chá faz sede.
É fácil adivinhar o suicídio das alças fininhas
e o catapultar do tecido prazeroso,
previsivelmente húmido,
deixando-a,
toda,
à sua mercê.
“Que calor...Puxa! Queres mais amor?”
“Sim, pode ser...e...com gelo.”
De babydoll comprido,
ela faz-se acompanhar da brisa nocturna,
parceira sagaz delas no mundo dos homens,
onde cabelos longos a esvoaçar instigam paixões,
e pernas torneadas a nu caçam corações viris.
As pedras de gelo fazem eco no inox.
“Porra – está calor, mesmo (!)”
Mas, atirar com o lençol para diante,
completamente,
não é opção,
Não ainda.
Seria o deitar da toalha ao chão,
o reconhece de que não consegue evitá-lo,
desejo teimoso,
instinto poderoso.
Sorri...
Inventara, para o amanhã,
a letra daquela noite.
Passos descalços abeiram-se que nem felino.
As pedras de gelo sufocadas em líquidos infusos tilintam nervosamente,
cientes das garras retraídas com doçura,
que lançarão o ataque tão iminente.
No quarto consumido por velas trigémeas encarnadas,
seres fantasmagóricos dançam, erráticamente, em redor.
E nele, tudo respira um aroma de calma e tranquilidade.
Aguarda...
...a hora da tempestade.