Bocadinhos de Bocados
09.08.19
Pega no cálice e leva-o até aos lábios, permanecendo assim, numa doce provocação que pretende fazê-lo dar um passo em frente.
Quer mergulhar no mar escuro daqueles olhos, mas quer que seja ele a atravessar a sala e a vir até ela.
Provoca-o de novo, passando a ponta da língua no rebordo do copo e observa o olhar dele preso na boca insinuante.
Mas ele deixa-se ficar, impavidamente, observando-a nos seus gestos de mulher consumida pela promessa de uma noite juntos.
Os cerca de vinte metros que os separam não revelam a linha ténue que os une.
Olha para o relógio. Dá a entender que está na hora.
Procura os olhos dela.
Levanta-se.
Agora, sentado à sua frente, os mesmos olhos gritam-lhe silenciosamente o quanto a sua presença o afunda numa paixão
sem fim e o devassa.
Vamos até à varanda?
Pode ser...realmente está muito calor aqui...
Beija-a, enrolando a sua língua furiosamente na dela, enquanto os dedos apertam a curva dorsal num gesto
de possessão de encontro ao corpo dele, pedindo que lhe mostre que também o quer.
E ela sorri simplesmente, vitoriosa por o ter à sua mercê, mais uma vez.
Os dedos encobertos dos olhares alheios pelos corpos de ambos, avançam tacteantes pelo interior da perna dele até lhe tocarem.
Quero-te – sussurra, e passa a sua língua radiante pelos seus lábios, como se sentisse já o sabor dele entre eles.
O carro pára abruptamente.
Ele desce e dá a volta, abrindo-lhe a porta impetuosamente.
Também, muito – a voz meia rouca evidencia o desejo.
Sorri, semicerrando os olhos, e sentada, desaperta-lhe o cinto das calças.
Segura-o entre as mãos, sabendo a carícia que ele deseja.
Aperta-o e desliza as mãos pela carne palpitante, até ele a fazer parar.
Puxa-a por um braço, enquanto ela solta uma risada de puro desejo e encosta-a ao carro.
Rasga-lhe as colantes, arranca-lhe as cuecas, ergue-lhe uma perna e penetra-a com força,
até se ouvirem os gritos que ecoam na noite e se projectam de encontro à lua.
Cheia.
Ela deixa-se cair no peito dele, corpos seminus, suados, de encontro aos lençóis.
A janela do quarto deixa entrar a brisa que refresca a pele que arde de paixão.
Beijos de lábios, sedentos ainda, mesmo depois de beberem da paixão que ambos carregam dentro de si.
Ele rebola o corpo e deixa-a deitada na cama, dirigindo-se para a casa de banho.
Quando regressa, ela está quase adormecida.
Deita-se atrás dela, encosta-se ao corpo escaldante, desliza os dedos pelas suas costas até às nádegas,
separando-as, passando os dedos por entre elas para a tocar como ainda a não tocou nessa noite.
Excita-a, introduzindo um dedo, dois, acariciando, massajando a carne que se vai rendendo ao desejo,
molhando-se, entre suspiros e frases soltas que vão saindo dos lábios dela.
Está preparado para amá-la de novo, e ela ansiosa por o receber.
Não hesita e avança para mais uma viagem pelos caminhos da luxúria, agora, sem pressa, com ternura, com amor.
A manhã vem encontrá-los abraçados e o sol penetra por entre as cortinas para deixar um beijo nos seus rostos.
É mais um dia que recomeça naquele jogo que é a vida composto de bocados...
de gestos, sensações, sentimentos, desejos, tristezas, alegrias, percas e conquistas.
O pequeno tic-tac faz-se ouvir no ainda silêncio presente.
Mais uns bocadinhos...que passaram...e que ficaram.