Para Sempre
02.09.19
Ao vê-la, ali, à sua frente, a sua reacção fora simplesmente sorrir.
O tão esperado momento...
"Olá !" - ela sorriu, fazendo uma espécie de meia - reverência.
"Eu não acredito! És mesmo tu?!" - ele aproximou-se num misto de surpresa e alegria.
"E porque não seria?" – riu novamente.
Aproximou-se mais, um tudo ou nada exaltado.
Desejava abraçá-la, beijá-la, para nunca mais a soltar...
Ela, estava mesmo ali !
Aquela mulher esbelta e dócil, de cabelos espessos e longos tinha vindo de terras distantes.
Guerreira e alegre, conquistara o coração dele.
Tinham-se visto apenas uma vez, após uma batalha infernal da qual ela o ajudara a recuperar.
Desde então, o guerreiro tinha-lhe mandado cartas ... cartas cheias do seu amor por ela.
Ela, não tinha sabido corresponder aquele sentimento novo.
Acreditava que, para amar alguém era necessário tê-lo por perto, mas, incompreensivelmente,
logo descobriu que não era assim.
Sem se dar conta disso, a verdade é que não vivia mais sem as cartas dele.
Ele era o único que parecia amá-la pelo seu jeito de ser, por ser uma caixa de Pandora que se remetera ao silêncio,
que havia levado outros a desistir, a odiar e até, a querer destruir.
Aprendera a amá-lo.
Sabia que mais ninguém estivera tão perto...de ter a chave.
Então, resolveram que tinham que se encontrar.
Fora um dia de grande expectativa para ambos.
E agora, realizara-se.
Estavam num local que ela escolhera, numa casa de madeira rústica no sopé de uma encosta mesmo à beira de uma floresta
de gigantescos eucaliptos que ali davam lugar a um tapete infindável de flores campestres amarelas.
O guerreiro tocou no elmo que cobria a cabeça dela, onde apenas os olhos podiam ser vistos.
Com cuidado, retirou-o. Colocou o elmo dela ao lado, na mesa mais próxima.
Como ela era linda, e os seus olhos...como conseguiam eles cintilar em pleno dia ?
Sorrindo, ele retirou o próprio elmo, revelando um rosto comovido.
"Como esperei por este momento!" – confessou-lhe, abraçando-a com vigor.
"Eu também..."– disse-lhe enquanto retribuía o abraço, sorrindo perante a surpresa nos olhos dele que davam mostras
de que ele não se enganará, apesar da sua postura de homem inabalável.
"Umm...vais ter que provar isso guerreira !" – e soltou-a com um risada - "como sei que não passam de meras palavras
de uma mulher bonita...mas que também consegue ser...tão perigosa!" - e voltou a rir, nitidamente, bem disposto.
Por momentos, olhou-o, surpresa.
Mas a surpresa deu lugar ao olhar vitorioso e dos seus lábios emanou o sorriso mas envolvente que ele alguma vez vira.
"Quer que eu o prove? Concerteza."
Começou a retirar a sua armadura negra, polida e brilhante, até que toda ela se encontrava sobre a mesa onde ele colocara os elmos.
Ele olhou-a sem entender, tinha sido surpreendido, não esperava tamanha entrega e confiança, ficou verdadeiramente surpreso ao vê-la
começar a retirar a sua armadura também.
Ela pegava nas pesadas partes de metal prateado que compunham a armadura do guerreiro
e colocava-as com cuidado ao lado das suas, na mesa.
Era mais bonita do que ele imaginara.
Segui-a com o olhar até ao divã e sentiu com ela o olhou e mordeu o lábio inferior, antes de virar o seu olhar para fora de pequena janela.
"Ensina-me... " - ela corou - "a beijar, uh... já que sou sua..."
Caminhou devagar até ela, de encontro ao próprio coração e desejo que há muito o haviam deixado para se unir a ela.
Puxou-a com delicadeza e encostou os lábios nos dela.
Passou um braço por detrás do pescoço dela, aproximando-os.
Começou a aprofundar o beijo, tocando-lhe ao de leve na língua, despertando desejos, cativando vontades naturais e provocando
pequeninos gemidos de prazer.
Quando perderam o fôlego, ele começou a beijar-lhe o pescoço.
Na brincadeira ela dá um passo para trás, acaba por tropeçar e cai, levando o guerreiro consigo para o chão.
Ela voltara a corar e ele sorri-lhe carinhosamente.
Voltou a beijá-a, demonstrando todo o seu desejo, seu amor, sua dedicação a ela.
Ao sentir que a fazia arrepiar, procurava-lhe os lábios, cada vez mais sedento, mais pronto para a amar.
"O que foi isso?" – sussurrou-lhe ela, olhando em redor. "Meus deus...que foi aquilo ??"
O tremendo estrondo fez-se ouvir outra vez...mais perto.
"Não sei, mas não gostei nada...Vamos!" - suspirou e ajudou-a a levantar-se.
Vestiram as suas armaduras.
O guerreiro empunhou a sua espada mística, feita pelo melhor ferreiro, que era única e só ele poderia usar.
Ela pegou na sua besta dourada.
Era entalhada com enfeites de cobras, rara, difícil de ser manejada, os seus tiros rápidos como raios.
Os dois olharam-se.
"Sim, eu amo-te" - disse-lhe, pousando uma mão no elmo dela.
"Eu também" - e ela apertou a mão dele, num gesto de carinho.
E ambos saíram da casa.
Ao verem a fera que iriam enfrentar, engoliram em seco.
Era enorme e esperava-os com toda a ânsia diabólica que habitava as criaturas que outrora tinham sido criadas
para servir nas guerras contra os povos do norte mas que após o holocausto e sem donos,
vagueavam as planícies como qualquer outro animal selvagem.
A batalha fora árdua e vários golpes e contra golpes mais tarde, ambos atingiram o seu limite.
A besta caiu, quase morta, sangue jorrando das muitas feridas visíveis.
O guerreiro, cansado, caiu de joelhos no chão, a sua armadura danificada.
Foi então que ela foi até ele.
"Acho que conseguimos!" - ele tentou sorrir, olhando-a.
"Sim...conseguimos..."- disse - mas, ao escutar um repentino zumbido, não pensou duas vezes e jogou-se na frente do guerreiro
e acabou por levar com o último golpe da besta, que finalmente morreu.
O guerreiro pegou-a nos braços, desesperado...
Por entre a armadura dela escorria um fio de vermelho.
Sangue. Muito sangue.
Sangue que corria cada vez mais depressa.
Ela sorriu...- "Tu...estás bem?" - falou com dificuldade.
"Porquê ? Porque fizeste isso?? " - murmou com lágrimas nos olhos.
"Porque eu te amo...olha...não é esta a melhor prova que eu te posso dar ?"- sorria fracamente, já com os olhos a ficarem enublados.
"Não... Não!!...Por favor... Não me abandones...Não agora que te encontrei...Não agora !! Vais ficar boa, luta, não te entregas, não assim !!
Ela levantou o braço e passou a mão delicadamente nos lábios dele...
"Eu nunca te abandonarei..." - e sorriu pela última vez.
Assim que fechou os olhos, o braço caiu inerte ao lado de seu corpo.
Naquela hora, o grito de dor do guerreiro trespassou o mundo.
O grito deu lugar ao gesto.
O gesto silenciou o grito.
Mais tarde, houve quem jurasse que esse grito teria sido de um anjo,
porque nenhum humano poderia gritar daquela maneira...evidenciar tamanho sofrimento...
Naquele dia...o guerreiro desapareceu, levando consigo seu único amor.