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Fox-Time

Fox-Time

Ardes em Mim

16.08.19

212_Sad Girl_Unknown.jpg

Ela desce a longa escadaria com degraus de granito e um grosso corrimão de madeira escura.
As tochas, presas na parede fria de pedra aquecem o ambiente,
iluminando todo o salão mas deixando-o sempre na penumbra.

O meu corpo promete reagir aos seus movimentos leves, subtis e elegantes.
Lentamente ela desce as escadas, degrau a degrau,
sem nunca desviar os seus negros olhos dos meus, degrau a degrau.
Aquele sorriso cativante que transborda, trepando as paredes,
passo a passo,
aquele andar sensual,

como que de proposito para me deixar numa enorme inquietação.
O mesmo andar leve e carinhoso, o mesmo olhar terno e selvagem,
o mesmo baloiçar de uma leoa que cativa a presa antes de a atacar e matar.

Mas eu, naquele momento, já estou morto,
nada posso fazer contra ela,
não lhe poderia resistir e não a poderia vencer.
Não sou mais do que um estúpido rato que avança para a ratoeira
porque o queijo parece delicioso,
mesmo sabendo que não terei oportunidade para saborear a refeição.
Mas vale a pena arriscar!

O seu corpo veste algo branco, não é tecido,
é um qualquer material, muito mais leve e transparente.
Não consigo tirar os olhos daquele corpo cheio de envolto.
O cabelo comprido, como que despenteado, parece um manto selvagem
que lhe cobre a cabeça, caindo sobre os ombros, atravessando o peito e as costas
acabando sobre a barriga como que a proteger e envolver o seu ventre.
Ela transmite toda a sensualidade e perversão presente na natureza.
Sobre as pernas que continuam a deslizar pela escadaria do salão encontra-se o meu refugio.
Só quero estar junto a ela, nos seus braços,
explorando todo o seu corpo entre pensamentos e devaneios.
Quero tocar cada ponto mais sensível e beijar cada pedaço de pele,
tão suave e perfeita, tão quente e selvagem.


Mas ela sabe tudo o que eu estou a sentir e a pensar,
sabe de cor que não pensava duas vezes antes de encaixar o meu corpo no seu,
e eu sei que ela se prenderia a mim num só momento.
O seu olhar diz-me que não trocaria nada no mundo por uma noite de amor comigo.
Mas não para uma simples troca de loucuras ,
mas sim uma noite repleta de sentimentos,
palavras e monossílabos, sons, arfares, suores, cheiros e sabores...

Ela sabe o que eu quero e não hesita em manter-me ali sentado, só a olhar,
enquanto se prepara para por o seu perfeito pé direito no degrau seguinte, sem medo...

Estou extasiado, sem me poder mexer... além da morte...
Estou cansado de esperar, o ambiente está quente de mais,
as paredes sucumbem ás chamas em tons de amarelo e azul,
o fumo começa a causar-me náuseas,
os meus olhos já ardem,
e o calor nos dedos está a tornar-se insuportável !!

Com medo de me queimar deixo cair a fotografia...
Esta consome-se, transformando aquela bela figura em nada mais que cinzas...
Fecho os olhos por momentos.
Esfregue-os.
Volto a abri-los.

Inclino-me para a frente.
Agarro na pequena pá e atiro com o fino pó esbranquiçado.
As chamas irão extinguir-se durante a noite.
No ar continua o aroma amargo e forte do papel fotográfico queimado.

Levanto-me.
A lareira natalícia virou túmulo de cremação.
Pego nas minhas mãos e sacudo-as.
Arrependo-me.
Resta-me apenas a memória.

A não ser...que lhe peça outra....

Mas...dar-me-á ?

Vou dormir.

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