Viagem de Comboio
19.07.19
O comboio corria veloz.
Apanhara-o para ter uma viagem mais confortável e rápida.
No entanto, detestava aquelas constantes paragens em inúmeras estações e as entradas e saídas de tanta gente desconhecida.
Por disso, escolhera a primeira classe que ia sempre com menos gente.
Naquele dia, apenas vislumbrava três cabeças em toda a carruagem e bastante afastadas do lugar onde estava sentada.
Felizmente.
Queria descanso e concentração para ler uma última vez as 53 páginas da matéria sobre a qual tinha que dar formação às 15 horas.
Depois de quase uma hora de leitura e a necessitar de uma pausa, decidiu ir tomar um café ao bar a fim de se manter bem desperta.
Já se desabituara de viajar tão cedo.
Procurou um lugar de canto e fez sinal ao empregado para lhe trazer o café.
Olhava pela janela quando pressentiu algo, arrepiou-se, e virou-se repentinamente,
deparando-se com o olhar penetrante de um estranho encostado ao balcão do bar.
O olhar masculino desceu pelo corpo dela, de forma lânguida e insinuante.
Sentiu-se desnuda de roupas e sentires, como se ele lhe tivesse arrancado mais do que a blusa e saia com aquele olhar.
Não gostou daquela sensação e indignou-se.
Contudo, não deixou de sentir, também, um certo formigueiro de excitação.
Olhava-a com firmeza.
Era gira.
Parecia cansada e no entanto havia uma frescura leve que rodeava a forma como andava,
pensou que era o andar mais perfeito que tinha visto.
Ok, sorriu para si, ou então, era simplesmente um daqueles momentos em que a presença de alguém,
sem razão aparente, interfere com a nossa.
Viu-a ficar sem jeito, a passar a mão na saia, ajeitando-a sobre as coxas, e na blusa, para confirmar que estava devidamente abotoada.
Deu conta do quanto estava a ser irracional e corou até à raiz dos cabelos.
Terminou de beber o café e dirigiu-se para a sua carruagem, sentindo que os olhos daquele desconhecido
a acompanhavam pelo corredor do comboio.
Havia de se recompor e mostrar-lhe que não se sentia minimamente afectada com o seu descaramento.
Aguardou que ela voltá-se ao seu lugar e reparou na tentativa de concentrar-se na leitura e como, claramente irritada,
pousou o dossier no banco ao seu lado e colocou os phones, sintonizando uma estação de rádio provavelmente
por forma a tentar esquece-lo.
Foi então, que ela fechou os olhos.
Minutos depois sentiu um movimento a seu lado.
Abrindo os olhos, virou a cabeça e viu o estranho a seu lado, de pé.
Com um gesto perguntava se podia sentar-se a seu lado e, sem lhe dar tempo de dizer qualquer palavra,
tirou o dossier e acomodou-se, sem deixar de a olhar.
Ela ainda tentou balbuciar um protesto, mas parou quando ele lhe tocou os lábios em sinal de silêncio.
Sem dizer uma palavra, aproximou o rosto e colou os lábios aos seus, sem lhe dar possibilidade de fugir.
Sentia os membros presos.
A mesma emoção prendia-lhe a voz na garganta e a vontade de protestar.
O corpo tremia, invadido de uma sensação estranha.
Devia estar louca para permitir que um estranho a beijasse, lhe tocasse os seios como ele estava a fazer,
apertando o seu corpo contra o dele, alguém que nunca havia visto na vida até há menos de meia hora.
Abraçou-a, puxando-a para olhar o seu rosto de novo, antes de a beijar sofregamente.
Sentiu a mão dele subir pelas suas coxas, por baixo da saia, e trémula de desejo, tocou-o ao de leve,
numa carícia que revelou toda a ânsia contida.
Abrindo a boca, deixou que a língua masculina tocasse a sua, entrelaçando-se com volúpia.
Não conseguiu aguentar mais.
Levou-o para o seu compartimento.
Uniram os corpos e buscaram o cume do prazer em movimentos acompanhados pelo ritmo do andamento do comboio,
entre gemidos mudos, carícias, sussurros, mordidas e suspiros, amaram-se loucamente.
O tempo parecia estar preso àqueles carris, absorvida naquela viagem, perdido e sem rigor,
cúmplice de uma ocasião que jamais esqueceria.
Sem uma palavra, ele puxou as calças, abotoou-as, fechou a camisa, levantou-se com um sorriso,
beijou-a nos lábios e desapareceu no corredor.
Ela compôs a roupa, ergueu-se e encaminhou-se para a casa de banho, a fim de se pentear e tentar recuperar
ainda do que havia acontecido.
Devia ter enlouquecido para fazer aquilo, pensava, enquanto se olhava no espelho.
Mas não.
Como recordação, tinha ficado o gosto de um desconhecido nos lábios
e a marca dos seus dentes era bem visível no seu pescoço.
Faltava cerca de 1 hora para o fim da viagem.
Teria tempo par rever a matéria do dossier.
Tempo para esquece-lo.
Se o conseguisse...