Estou Tramada!
12.01.19
Ele não esperou pelo elevador.
Agarrou nas chaves e correu escadas abaixo de encontro ao automóvel, arrancado de forma brusca.
O tempo era escasso e ele queria que aquilo parecesse especial.
Estacionou de modo a deitar um olhar para dentro do restaurante e viu que ela ainda não tinha chegado.
Ainda bem, pensou.
Só espero que tenham por lá uma jarra!
Estava com o nervoso miudinho e um sorriso tomou conta da expressão dela.
Lembrava-lhe os exames orais em tempos de escola.
Não é nada mais do que um simples almoço, disse para si mesmo, vá, aguenta-te, já não és nenhuma criança !
Entrou - fazendo ar de confiante.
Sim, lá estava ele, na mesa do canto, como combinado, perto da lareira que aquecia a sala naquele dia
bonito e soalheiro, mas sobejamente frio.
Puxa! Como é que ele chegou tão depressa?
“Olá!...”
“Olá....chegaste depressa...”
Trocaram os beijos de cumprimento, como é norma.
“Pois...é...É que eu estava perto...mas...olha...senta-te...”
“Obrigada...sabes...não tenho muito tempo...”
Foi então que ela notou...porque será que as outras mesas não têm jarras com rosas vermelhas?
Não conseguiu evitar que o fluxo repentino de sangue ao rosto a traísse.
Ele olhava-a, tentando não olhar...
Como é linda, porra!
Vê-la no telemóvel é bom, mas presencialmente...bolas!
”Olha, esta é para ti” - e entrega-lhe uma das rosas, retirando-a da jarra à frente dela.
”Guarda na tua carteira...uma lembrança de hoje” - diz-lhe sorrindo.
“Obrigada”.
Homens! - pensou logo - Espero que não manche nada...
Pediram as refeições por forma a poderem partilhar as escolhas, fazendo ele questão de apontar a
importância na escolha do vinho.
E, comeram.
Perante qualquer curioso no local, faziam querer que se tratava de um mero ritual do dia-a-dia,
sem grande alarido.
Algo que acontece entre amigos e colegas, que até, podia ter sido num outro sitio qualquer.
Mas...não o era...
Ao curioso mais atento, de certeza que não passava despercebido.
Havia algo de diferente no ar.
Uma reunião de perfumes que se complementavam.
Ele e ela, trocando sorrisos, de vez em quando atrapalhando-se nas palavras de um e outro, por vezes
evitando o cruzar de olhares e ela sustendo a respiração quando ele, inesperadamente,
sugere-lhe que solte o cabelo que trazia apanhado.
“Tenho que ir...”
“Já ? Podemos encontrar-nos outra vez ? “
“Quer dizer...se tu achares bem...quer dizer...não tem que ser já amanhã...”
“Toma...”
Ela devolve-lhe a rosa e naquele momento de adrenalina intensa, o coração dele comprime-se
e ameaça gritar bem alto perante todos que ali estão - Idiota!
“Compreendo...desculpa...esquece...eu não quis...”
Mas ela interrompe-o, colocando o indicador em frente dos lábios que esboçam um sorriso da cor da rosa que ele segura.
“Quero mais onze iguais a esta ... logo à noite. Digamos ... por volta das 9hrs ?
Depois mando-te um sms!”
E com isto vira-lhe as costas e dirige-se à saída levando com ela aquele olhar de rapazinho babado.
Não estou enganada!
Aqueles olhos não mentem.
Gostei...
E...agora??
Acho que estou tramada !